Fêmea fatal
Heleno de Paula
Apesar de confuso, não
temo mais a tua chegada.
A observo atentamente, me
preparo para receber o teu bote certeiro.
Me entrego por inteiro.
Rendo-me uma vez mais a ilusão da droga que embriaga.
Perco-me por esse teu
jeito volátil, é mal vinda toda essa tua loucura.
A fera instável que jamais
adormece, reaparece,
Insaciável à procura da
caça teu libido fulgura.
O prazer escorre da língua
entre os dentes,
Lubrifica todo o corpo,
exalando um olor excitante,
Ludibria o desejo dos
inocentes,
O escarnecer das feições
pós-gozo é instigante.
A fêmea fatal, envaidecida
vira-se, geme e suspira.
Teu olhar felino,
penetrante, punge o peito de mais uma presa.
Sangra o amor dilacerado,
espalha-se a emoção assassina,
A chama ardente finalmente
está acesa.
Queima, arranca as vestes,
faz suar as carnes desnudas.
Expele a paixão, esse veneno
tão contraditório e tão fascinante.
Pra uns a própria morte,
pra outros a cura, após inocular tal sentimento conflitante.
Assim as vidas anoitecem,
padecem em teu colo, entregues a toda má sorte.
Apaga do coração e da
mente as íntimas lembranças.
Teu cio interminável vai
buscar outras vítimas do teu dote.
Por mais um momento a tua
luxúria me mancha.